segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Águas de Piraquara

Um colega meu, guia de turismo em Foz do Iguaçu, quando conversávamos sobre meu levantameno das nascentes do rio Iguaçu, me disse que o rio Iguaçu nascia de inúmeras lagoas que pontilham o planalto logo acima de Curitiba. Eu achei interessante a idéia. Mas no que toca ao rio Iguaçu, a coisa é mais complexa. O planalto ou planície que meu amigo viu, é o que eu vou chamar aqui de planície de Piraquara. Embora ela se estenda a todos os lados e adentre Pinhais, São José dos Pinhais e outras cidades, vou ficar com Piraquara. Quem vê as lagoas que meu amigo viu, provavelmente estará a abordo de um trem da Serra Verde Express indo de Curitiba para Morretes - neste que é um dos mais bonitos passeios turísticos do Brasil.

Eu me imagino atravessando esta planície há 200 anos. Deveria ser um verdadeiro pantanal - o que a Convenção RAMSAR e os biólogos chamam de "zona úmida". Deveria haver centenas de espécies de pássaros aquáticos, muito peixe, moluscos. Deveria ser um berço de vida. Isso ainda é possível ver, como eu vi, durante minhas explorações da área.

Infelizmente, as lagoas que meu amigo viu são, na maior parte, artificiais ou, pelo menos, alvo constante de intervenção humano-mecânica. A pressão da ocupação humana em toda a região do Planalto é grande. Está em andamento uma verdadeira reforma na paisagem do Planalto de Piraquara. As lagoas artificiais são tentativas de concentrar a água nesses reservatórios ao passo que (boa) parte da terra é liberada para loteamentos, aterros para construção, bairros e outras atividades. O pantanal piraquarense encolhe, a população explode. Por isso a espécie animal mais visível na região é o "Homo draguenses", quer dizer o homem e suas dragas, tratores, patrollers, caçambas e outras sub-espécies de cavadores.

Piraquara com seus 100 mil habitantes é muito espalhada. Vem desde a Vila Deodoro, com bela vistas da Serra do Mar, na divisa com Quatro Barras e o rio Curralinho, que desemboca na Barragem do Iraí,o bairro populoso e carente de Guarituba, próximo à Pinhais. As águas da Planície são drenadas, re-drenadas e macro-drenadas; cursos de rios redefinidos, endireitados e conduzidos às lagoas, às estações de água, barragens e até às áreas de tratamento da Sanepar. Hoje, o Guarituba recebe um projeto chamado novo Guarituba que deverá receber R$ 92 milhões do PAC, para aliviar o peso da ocupação humana especialmente na área de "saneamento" no coração da Região dos Mananciais.

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