Rio perde caudal e está cada vez mais poluído. A população não se dá conta. O que fazer para reverter a situação?
(Jackson Lima - Artigo publicado originalmente na Revista 100 Fronteiras de Foz do Iguaçu - Junho de 2009. Foto Usina Salto Caxias atualmente chamada Usina Governador José Richa)
Uma Audiência Pública foi convocada, às pressas, para o dia 19 do mês passado em Foz do Iguaçu. Pela primeira vez, Foz do Iguaçu quis saber o que acontecerá com a vazão de água das Cataratas, caso a Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu sair do papel. A Usina ficará a 90 quilômetros das Cataratas do Iguaçu e a menos de um quilômetro do Parque Nacional do Iguaçu. “Queremos garantias de que a vazão do rio Iguaçu nas Cataratas não diminuirá”, disseram vários oradores especialmente representantes do turismo de Foz. A preocupação era com a possibilidade das Cataratas continuarem com essa mania de andar secando. Já há turistas cancelando pacotes e a ameaça de crise já ronda o setor.
Muitos discursos foram feitos. Falaram as autoridades, especialistas, ambientalistas e vereadores da casa. No final, da sessão foi anunciado que a audiência não havia terminado. Continuará em nova data à espera de representantes da empresa que construirá a Usina. Um pouco antes do final, a palavra foi passada aos prefeitos de Capitão Leônidas Marques, Claudiomiro Quadri e o de Capanema, Milton Kafer. Os dois representaram o “outro lado”. Eles defendem a hidrelétrica e dão como justificativa a situação precária de municípios que já são considerados “inviáveis” na região.
“Com a construção da Usina do Baixo Iguaçu a vazão da água nem vai melhorar, nem piorar. Vai ser a mesma” diz Kafer. A resposta parece mostrar que os problemas da seca do rio Iguaçu são muito mais complexos do que se pensa. Por coincidência, a Revista 100 Fronteiras estava produzindo este material sobre o rio Iguaçu. A tese é que o rio paranaense, na hora da verdade, é um grande desconhecido e seus problemas não são debatidos.
Em primeiro lugar, as crianças aprendem nas escolas do Estado e os turistas escutam de seus guias de turismo que o rio Iguaçu nasce em Curitiba. Ora, para os mais de cem mil habitantes de Piraquara, por exemplo, isso é um insulto. Segundo, fala-se de uma nascente do rio Iguaçu quando, na realidade, não existe “uma nascente” do rio Iguaçu. As diversas secretarias da Prefeitura de Piraquara, Agricultura, Meio Ambiente e Planejamento já levantaram mais de 1.300 fontes ou nascentes. A cidade se encontra na Área de Preservação de Mananciais e é responsável por 50% da água que abastece Curitiba e as cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os outros 50% vem de outros municípios e outras bacias.
Contudo, as milhares de nascentes não vão muito longe depois de “nascer”. As fontes que formam os córregos que vão para os rios Piraquara, por exemplo, são logo captadas e desviadas para a Represa Piraquara I. A represa Piraquara II já entrou em funcionamento. As nascentes das centenas ou milhares de pequenos córregos que se dirigem, para a Bacia do rio Iraizinho também são levadas para a represa do Irai entre Piraquara e Quatro Barras.
E assim é a vida das águas que formarão o Iguaçu na região conhecida como BARI – Bacia do Alto Rio Iguaçu. Depois de sair das represas, a água é captada e canalizada muitas outras vezes, mesmo antes de sair do município de Piraquara. As águas do rio Irai e do rio Piraquara vão se encontrar logo abaixo das represas. Prosseguem em direção a Pinhais, mas antes passam por uma estação da Sanepar.
Primeira aparição e trajeto
Às margens da BR 277, sobre uma ponte, o viajante vai encontrar a primeira placa federal avisando: Rio Iguaçu. Nesse ponto o rio Atuba, seriamente poluído já desembocou no rio Iraí que também está perdidamente poluído. Este encontro do Atuba com o Irai é chamado de “Marco Zero” do Rio Iguaçu. A partir daqui se contam os quilômetros até sua foz em Foz do Iguaçu. É por causa disso que as escolas ensinam que o rio Iguaçu nasce em Curitiba.
Saindo desse ponto na BR 277, ou Avenida das Torres, o rio prossegue para Araucária em seu trajeto para Porto Amazonas a 70 quilômetros de Curitiba. Aqui acontecem duas coisas importantes. Primeira, o rio é naturalmente revitalizado e rejuvenescido ao passar pelas Cachoeiras de Caiacanga. A segunda é que a partir de Porto Amazonas o rio passa a ser navegável. Uma placa no porto avisa: “Marco Zero da Navegação do Rio Iguaçu”. A navegação e o rio são tão importante que o prédio da Prefeitura tem forma de barco. O rio aqui ainda sofre a poluição que vem da capital.
Porém, o principal problema do rio Iguaçu em Porto Amazonas já é o que assusta e ameaça o turismo de Foz do Iguaçu. É a baixa da vazão do rio. Os barqueiros, os canoeiros, os pescadores reclamam e os poetas lamentam em versos. Mesmo em Porto Amazonas, o rio está secando e o assoreamento preocupa. “Mas ninguém vê – diz o poeta – está todo mundo ocupado”, lamenta em verso Daniel Caron.
De Porto Amazonas, o rio aponta para o lado de Santa Catarina. Começa a deixar a região onde nasceu. Na fronteira com Santa Catarina, o rio Iguaçu recebe uma injeção de água e de ânimo. Nele desemboca o rio Negro que nasce no Morro Redondo, na Serra da Araçatuba e percorre 240 quilômetros até encontrar o Iguaçu. O Rio Negro que passa pela cidade de Rio Negro (PR) marca a divisa entre Paraná e Santa Catarina.
Uma vez fortificado e com vazão redobrada, o Iguaçu continua margeando o Paraná e Santa Catarina. São 239 quilômetros entre Porto Amazonas e as cidades de União da Vitória (PR) e Porto União (SC). Aqui termina o trecho livre e desimpedido do rio Iguaçu. Começa a área em que o rio foi “aproveitado” para a construção das hidrelétricas.
As Usinas
Foz do Areia é o nome da primeira Usina Hidrelétrica do Rio Iguaçu, As outras são Salto Segredo, Salto Santiago, Salto Osório e Salto Caxias. Esta última com sede em Capitão Leônidas Marques, terra do prefeito Claudiomiro Quadri. Vinte quilômetros abaixo de Salto Caxias é onde se pretende construir a Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu, a sexta e última do rio, debatida na Audiência Pública de Foz do Iguaçu.
Os especialistas dizem que comparado com a Usina Hidrelétrica da Foz do Areia, o lago da UHE Baixo Iguaçu que terá 13,56 quilômetros quadrados não é nada. O reservatório da Foz do Areia inundou 167 quilômetros quadrados. “A única usina que tem condição de segurar água e afetar o rio é a Foz do Areia” disse Edson Manasses da SUDHERSA - Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. Segundo ele, a UHE Baixo Iguaçu não terá efeito nenhum sobre a vazão. Quer dizer, quem procura um bom motivo para se preocupar deve olhar para Foz do Areia que foi construída com dois motivos em mente: controlar cheias do Iguaçu e produzir energia elétrica.
A UHE Baixo Iguaçu vai inundar 336 propriedades que envolverá 359 famílias e custará cerca de R$ 1 bilhão. Apesar do Reservatório ter somente os 13,56 quilômetros quadrados, na matemática do projeto, os municípios perderão terras. Capitão Leônidas Marques perderá 550,8 hectares, Capanema perderá 452,4 hectares e Realeza 340,4 hectares. Outros municípios também sacrificarão terras. É o caso de Planalto que perderá 6,18 hectares e Nova Prata do Iguaçu perderá 3,87. “Até esse povo que vai perder terras concordam com o projeto”, disse Kafer de Capanema. Vale destacar que Capitão Leônidas Marques é parte do Oeste do Paraná. Os outros municípios do projeto estão no Sudoeste – o rio Iguaçu é uma fronteira entre as duas regiões do Paraná.
Tanto o chefe do Parque Nacional do Iguaçu e do Instituto Chico Mendes, Jorge Pegoraro, como os prefeitos da região destacaram que o projeto da UHE Baixo Iguaçu é antigo e que vem sendo modificado. O prefeito de Capitão Leônidas Marques, lembrou que o projeto inicial previa a inundação de 17 quilômetros de área do Parque Nacional do Iguaçu. “Nossas comunidades lutaram para que a proposta fosse modificada”, disse Quadri.
Divisão de interesses
Incluindo os 10 municípios da área de nascentes do rio Iguaçu entre eles a capital, o rio Iguaçu define destinos de 43 municípios paranaenses. Cada município se encontra em uma de três grandes áreas de interesse econômico: produção e negócios da água, produção de eletricidade e em trecho pequeno na RMC, refino de produtos derivados de petróleo.
Pode-se incluir, no trecho final do rio, os interesses do turismo, lazer e da preservação. Hoje, cada setor trabalha separado. O rio necessita de uma visão integral para não tornar-se o rio dos conflitos. No meio há interesses agrícolas, da agricultura familiar, do artesanato, pescadores e cooperativas de produtos da pesca – como entre Capitão Leônidas Marques e Nova Prata do Iguaçu. Duas áreas de interesses são poderosas. Na Região Metropolitana de Curitiba, a questão da água é muito séria. Curitiba está na lista das cidades brasileiras com fragilidades no abastecimento de água. O futuro é preocupante. Em algumas áreas da RMC já há conflitos entre o uso da água para abastecimento e a água para eletricidade. Que a discussão da UHE Baixo Iguaçu ajude a deslanchar esta preocupação integral com o rio e a comunidade do Rio Iguaçu das suas fontes até a sua foz.
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2 comentários:
Estimado Jackson: me gustaría poder contactarme con Usted para tener novedades del proyecto Baixo Iguaçú, cuyo permiso estaba analizando el Instituto de Ambiente de Brasil. Mi mail es laureanomisiones@gmail.com Soy periodista del diario Primera Edicion de Misiones, Argentina. Saludos cordiales.Laureano Rodriguez
Sou colunista do jornal O Iguassu, em Foz. Caso tenham mais alguma informação, por favor repassem. Publiquei uma reportagem em meu blog a respeito do tema.
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